domingo, 21 de junho de 2009

Cada vez mais (parte IV)

O silêncio é a mais sincera e complexa resposta que se pode dar. O silêncio nos confirma o que antes era temido. O silêncio nos mostra a verdade. Faz com que paremos e pensemos. É profundo e acalma. Ou faz com que o desespero que antes cobria apenas uma parte do nosso ser tome conta dele inteiro.

Não me importava quem estava no telefone. Será que ninguém se importava mesmo comigo? Tudo bem, quem estava ligando talvez quisesse saber se eu estava melhor. E digo isso com tanta certeza porque nessa cidade qualquer coisa que você faça, dois minutos depois, noventa e sete por cento das pessoas já sabem.E isso talvez seja um dos incontáveis motivos por eu odiar aqui. E, quem estava no telefone, se realmente queria me ver melhor, acho que devia me conhecer o suficiente para saber que falar com alguém agora pioraria ainda mais as coisas, eu seria dominada pelas minhas lágrimas. Então, quem estava no telefone teria que se acostumar com o vácuo. Fosse quem quer que fosse.
O telefone parou. O silêncio tomou conta da casa. E de mim. Era medíocre, egoístico e masoquista, mas eu preferia ficar trancada no meu quarto escuro e silencioso que ir me abrir com alguma pessoa que eu tivesse certeza que iria me ouvir e me aconselhar.
O tempo passou, e o telefone tocou de novo. Agora eu estava totalmente sem forças para me levantar e ir atender, ou mesmo ver se o número era conhecido. Meu travesseiro já estava completamente molhado. Senti que minha cabeça estava pulsando demais, a ponto de explodir a qualquer momento. Eu estava tremendo, mesmo coberta com sete cobertores. Minha garganta doía de tantos soluços. Eu provavelmente estava rouca. Ou sem voz.
Eu sabia que não iria conseguir dormir e que estava agindo como uma perfeita idiota. Mas não tinha forças, vontade ou intenção de fazer diferente. Sim, eu estava sendo exageradamente masoquista.
E de novo o telefone toca.
Eu estava decidida a não atender. Eu não iria atender. Até que alguém tocou a campainha. A, deveria ser importante e a pessoa talvez fizesse parte dos três por cento da cidade que ainda não sabiam do meu caso. Droga, eu teria que ir atender. Ou a pessoa desinformada chamaria a polícia, bombeiro, sei lá, pensando que eu havia morrido.
Coloquei um chinelo e fui descendo os quinze degraus que mais pareciam cento e quinze. A pessoa estava descontroladamente desesperada, não parava de tocar a campainha. Cara, eu estava indo! É tão difícil assim esperar? Tudo bem que já faziam três minutos, mas mais um não iria matar ninguém, poxa! Ou iria? Ok, era melhor eu descer mais rápido. Finalmente, cheguei na porta. Minha aparência não deveria estar nem um pouco boa, porque quando o irmão dele me viu quase teve um ataque de risos.
- Gustavo! - sim, eu estava rouca.
- A cara, você não tem ideia do que aconteceu !
- Era você no telefone ?
- Sim, por que você não atendeu ?
Ok, por que eu não atendi? Porque seu irmão, a pessoa que eu mais amo nesse mundo não se importa nem um pouco comigo.
O silêncio serviu de resposta para ele.
- A, me desculpe por ligar tantas vezes e vir na sua casa agora, no seu estado. E desculpe meu irmão também. Ele não sabe o que está fazendo.
- Como não sabe ? Ficou claro para mim que ele não se importa nem um pouco comigo, que qualquer coisa nesse mundo é mais importante que eu para ele. - quando eu iria aprender a controlar minhas lágrimas? Será que um dia eu iria ?
- É exatamente por isso que estou aqui.

Um comentário:

  1. Nossa flour...
    Você escreve muito bem!
    Venci a preguiça e li todo este post...
    Tô louca pra ler o próximo...
    Beijos
    wwwcoisasdagenteandgente.blogspot.com

    ResponderExcluir