quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cada vez mais (parte III)

E de repente você sente que não vai mais aguentar. Que o mundo vai desabar nas suas costas e que você vai ser enterrado vivo. Que o ar vai ficando cada vez mais rarefeito...Até que a base da sua vida definitivamente acaba, e você sabe que é inútil tentar respirar.

Com aquele olhar angelical, o sorriso mais doce de todos ele respirou fundo e com um ar meio irônico me cumprimentou.
-Oi, quanto tempo! Tudo bem?
Como ele conseguia? Ele mentiu, me enganou, me fez acreditar que seria para sempre, deixou meu rosto inchado depois de dias e dias chorando porque ele tinha me abandonado; e agora vem perguntar se está tudo bem. Ah, não. Não está nada bem. Eu ainda te amo, e você sabe disso e fingi não saber. Eu passo o dia pensando em você, totalmente fora do mundo que o meu corpo está e do mundo que seria considerado real. Você me engana, faz eu acreditar no seu 'pra sempre', diz que me ama e simplesmente me esquece. Não, não está nada bem.
-Oi, é, muito tempo mesmo - duas semanas,desde que tudo havia acabado - É, tá tudo bem. E com você ?
Nessa hora eu percebi que a Júlia saiu da loja, talvez para nos dar mais privacidade.Não consegui juntar as forças - nem as palavras - suficientes para dizer tudo o que eu estava pensando.
-Bem. A, eu tenho que ir. Minha namorada está me esperando. Tchau !
Opa. Namorada?
-Tchau.
Eu percebi que meus olhos ficaram vermelhos. E foram se inchando. Até que eles não suportaram mais e as lágrimas escorreram pelo meu rosto, borrando o lápis preto e fazendo com que algumas pessoas curiosas olhassem para mim. Peguei duas peças de roupas, sem ao menos saber o tamanho ou a cor deles e entrei no provador. Fechei os olhos e comecei a chorar em silencio. Minhas mãos começaram a tremer, eu comecei a ver as coisas rodarem. Eu não podia desmaiar lá, e no meu estado. Respirei repetidas vezes, ofegante. Tudo parecia ter voltado ao normal. Abri meus olhos, me olhei no espelho. Tenho a mais plena certeza de que se uma criança me visse no estado que eu estava ia se assustar e sair correndo. E talvez, não só crianças.
Consegui tirar toda a maquiagem do rosto e arrumar meu cabelo. Sai do provador e olhei que horas eram. Nove e quinze. Iríamos embora as onze. Fui procurar a Júlia. Ela estava com os outros, eles haviam decidido ir embora mais cedo. Ou eu tinha muita sorte ou a Júlia desconfiou do que aconteceu e contou para eles.
Me deixaram em casa. Arranquei as sandálias e joguei-as em qualquer lugar. Corri para o meu quarto e o telefone tocou.

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