quarta-feira, 7 de julho de 2010

Inevitável (parte V)


Finalmente, São Paulo. A minha casa aqui talvez fosse a coisa mais agradável, até agora. Ela era quinze vezes maior que a minha antiga. Eu comparei as plantas.
Eu já estava matriculada no que seria meu novo colégio. Começaria a ir amanhã às aulas, hoje eu iria para algum shopping daqui. Não que isso fosse me fazer sentir melhor. É óbvio que não. Mas, me distrairia um pouco e o que eu mais precisava agora era de distração.
Passei a manhã inteira arrumando meu novo quarto de modo que pudesse ficar parecido com o meu quarto anterior. O que era logicamente impossível, visto que todos os móveis eram novos.
Acabando de arrumar meu quarto, fui andando até o shopping. A distância era de no máximo quinhentos metros.
Olhei no relógio, 13:10 e eu ainda não havia ingerido nada, meu estômago precisava de algo urgentemente. Acelerei meus passos e confesso que isso chamou a atenção de quem passava por mim. Deus, todos pareciam gritar que eu era uma caipira na cidade grande. Como se eu não soubesse que seria assim. Há.
Todos daqui carregavam um ar de superioridade e arrogância até mesmo as crianças.Por um momento imaginei se caso eu tivesse nascido aqui, eu carregaria as mesmas características. Não, improvável demais.
Eu estava distraída demais comendo meu lanche - que por sinal, era o melhor que eu já havia comido em toda a minha vida - quando um sorriso encantador chamou minha atenção. Seu sorriso seria capaz de iluminar toda essa cidade, com a mais absoluta certeza. O dono do sorriso encantador pareceu notar que alguém o observava e virou-se para mim. Seu sorriso teria aumentado ainda mais se isso fosse possível, e imediatamente ele voltou a aparentemente cuidar de sua irmã mais nova. Nenhum dos dois tinha o ar superior e arrogante que todo o resto das pessoas daqui tinham e, observando minuciosamente dessa vez, não haviam mais exceções.
Acabei meu lanche e decidi voltar para casa. Minha cabeça estava doendo muito e se eu não desmaiasse no caminho de volta seria eternamente grata ao meu corpo.
Ao contrário da ida, agora meus passos eram vagarosos demais. O sol insistente sobre a minha cabeça aumentava ainda mais. E, droga. Eu desmaiei.
Acordei em uma cama de hospital. Ó, belíssima chegada à São Paulo. No primeiro dia aqui já estou conhecendo um hospital. Ótimo.
-Você está bem?
-Acho que sim, agora. 
-Seus pais estão ali fora, vou mandá-los entrar.
-Tudo bem...
-Camile! O que aconteceu?
-O mesmo de sempre. Eu estava andando, com dor de cabeça e desmaiei. Pelo menos eu acho que tenha sido isso.
-Isso não pode continuar, temos que descobrir o que você tem. Isso não é normal.
-Pai. Em quantos médicos você e a mãe já me levaram? Quantos deles deram uma diagnóstico convincente? Nenhum. Já me acostumei com isso, algum dia eu melhoro. 
-Acharemos a sua cura. 
-Vou melhorar sozinha. Podemos ir embora?
-Sim, o médico disse que você já está bem.
Levantei e percebi que minha bolsa não estava mais comigo.
-Minha bolsa...Roubaram?
-Não, ela está comigo, filha. Quem trouxe você aqui foi honesto o bastante para não lhe roubar.
-Quem me trouxe aqui, mãe?
-Provavelmente alguém que passava na rua. Esse alguém pegou seu celular no seu bolso e achou meu número. Ligou para mim e eu e seu pai viemos correndo para cá. Mas, quando chegamos, não havia mais ninguém.
-Hum. Agora, vamos?
-Claro.
Cheguei em casa e dormi. Minha vida aqui começaria amanhã, e eu sentia que precisava descansar muito.