terça-feira, 22 de junho de 2010

Inevitável (parte III)

-Alô?
-Arthur, preciso falar com você. Você pode vir em casa? Agora?
-Claro, estou indo.
Como sempre, ele foi definitivamente compreensível. Típico. Eu conhecia o Arthur desde criança. Ele sempre foi o meu porto seguro, sempre me apoiou em todas as minhas decisões. Eu sabia que o adeus que mais iria doer seria o adeus que eu teria que dizer a ele.
-Camile, abra a porta, sou eu!
Meus pensamentos tomaram conta de mim tão rapidamente que eu perdi a noção do tempo. Poderia ter passado horas olhando para o mesmo lugar, apenas me lembrando de todos os momentos maravilhosos que eu havia passado ao lado dele. Em breve tudo isso não passaria de meras lembranças de um passado bom.
Corri para a porta e destranquei-a. Ele entrou, olhou em meus olhos e imediatamente abriu seus braços. Eu o abracei por minutos inteiros. Gostaria de tê-lo comigo, assim, para sempre.
-Você não sabe, Arthur...
-Shhh. - ele fez um sinal que demonstrava entendimento, impedindo-me de continuar - Conversei com a sua mãe, lá em baixo, e ela já me contou tudo.
-E agora? Como vai ser daqui para frente? Não consigo imaginar minha vida longe daqui, longe de você!
-Hey, acalme-se.
Ele sentou-se ao meu lado e eu deitei sobre seu colo. E então, ele delicademente começou a brincar com meu cabelo. Somente o Arthur sabia como isso me acalmava.
-Obrigada.
-Obrigada? Pelo o que?
-Por você estar aqui. O que quer que você estivesse fazendo, com certeza era melhor que estar aqui comigo. As vezes me pergunto o que eu fiz para te merecer. E sempre acabo chegando a conclusão de que eu não te mereço.
-Quantas vezes terei que te falar para você parar com isso? Camile, por favor, você sabe que somos amigos, e amigos são para isso! Nada poderia me impedir de estar com você agora. Eu sei que você precisa de mim. E estou aqui para te ajudar.
-Obrigada.
E essa foi a última palavra que eu consegui dizer até ouvir o grito da minha irmã.
-CAMILE, VÁ ARRUMAS SUAS COISAS! NÓS VAMOS NOS MUDAR HOJE A NOITE! VÁ LOGO!
Eu e ele ficamos paralisados por dois minutos. Não esperávamos que a despedida fosse tão rápida.
Desci as escadas correndo, e fui perguntar para meu pai por que diabos teríamos que partir hoje. Ele apenas disse que seria melhor. É claro que seria, não era ele mesmo que iria se afastar de todas as pessoas que mais amava.
- Eu não vou sair dessa cidade hoje. Eu NÃO vou.
- Não quero discutir com você. Talvez você tenha razão, partiremos amanhã cedo.
De certa forma, essa já era uma conquista. Subi novamente e não encontrei o Arthur. Em seu lugar encontrei um bilhete que dizia:

Camile, tive que ir. Te encontro as 8:00 na praça.
E, não se esqueça, eu te amo muito!
Arthur.


Então, eu teria que esperar até as 8:00 para poder vê-lo novamente... Liguei o rádio no volume máximo e comecei a ouvir provavelmente pela última vez minhas músicas preferidas nessa cidade.Ou melhor, nessa vida.

Um comentário:

  1. aaah gi, sério, o modo como você é escreve é tocante, muito bom. / @mi_vitorio aqi (=

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