sexta-feira, 4 de junho de 2010

Inevitável (parte II)


-Bom, isso será bom para todos nós cinco, e sei que você não gosta dessa cidade; então, acho que ficará feliz.
-Filha, seu pai foi promovido no emprego. Nos mudaremos para São Paulo.
Nesse momento percebi que meus dois irmãos estavam extremamente animados com a ideia. Minha irmã mais nova pulava no sofá, enquanto meu irmão mais velho ligava para todos os seus amigos informando-os da notícia. Meus pais olhavam um para o outro, sorrindo, e pude perceber que esperavam ver um sorriso em meu rosto também. Mas, ele não apareceu. 
O que apareceram foram lágrimas que escorriam incessantemente por toda a minha face. Eu não podia acreditar naquilo, não podia ser real.
Eu realmente não gostava da cidade. Ela era calma demais. Típica cidade do interior onde era possível ver o nascer e o pôr do sol; todos os dias. Eu gostava disso. Do sol.
Gostava da forma com que todos saiam às ruas sem grandes preocupações. Gostava do modo com que as pessoas se cumprimentavam nas ruas. E, nunca pensei que fosse dizer isso, mas acho que até o sotaque um pouquinho arrastado daqui me fazia bem.
Mas, do que eu mais gostava era dos meus amigos. Do meu colégio.
-O que foi? Por que você está chorando? Não gostou da ideia de nos mudarmos, irmã?
Irmã. Era dessa forma que minha amável irmã dirigia-se a mim quando estava preocupada.  Por mais sarcástico que isso parecera ter sido, ela estava preocupada comigo.
Não fui capaz de responder. Apenas corri para meu quarto, tranquei a porta e deixei todas as lágrimas transbordarem. Deixei todas as emoções florescerem e tentei me concentrar em algo. Mas não existia algo. Não existia mais nada. Tudo se fora. Ou, iria.
A imagem de todos os meus amigos passou em minha mente. Cada sorriso, cada olhar. Senti-me sem forças e sem propósitos. 
Ouvi alguém batendo na porta. Minha mãe. Corri para o banheiro, enxuguei as lágrimas e abri a porta.
-Eu acho que deveria esperar isso de você. Que essa fosse a sua reação. Me desculpe.
-Não, mãe. A culpa não é sua. Não existem culpados.
-Filha, pense pelo lado bom. Pense em como será bom vivermos em uma cidade maior. Você ainda verá seus amigos, não com a mesma frequência, mas verá!
E mais uma vez eu era surpreendida com a incrível capacidade materna de ler pensamentos. Não sei como isso ainda me surpreendia.
-É, talvez seja. Mãe, eu queria pensar nas coisas um pouco agora, preciso ficar só um pouco.
-Tudo bem.
Assim que ela saiu, peguei o telefone e comecei a discar o número de quem provavelmente me faria sentir ainda pior. Mas, isso era necessário. Agora.

Um comentário:

  1. awn gi, lindo o modo como você define a amizade, sério *-* / @mi_vitorio aqi (=

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